Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Páscoa menos doce: por que o chocolate e o azeite estão mais caros?

Encarecimento é resultado de eventos globais que têm afetado diretamente a fabricação dos produtos

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A celebração da Páscoa no Brasil este ano deve sofrer com os aumentos no preço de dois componentes tradicionais dessa festividade, o chocolate e o azeite.

Esse encarecimento não é um fenômeno isolado, mas resultado de eventos globais que têm afetado diretamente a produção e, consequentemente, o custo ao consumidor final.

Inicialmente, é fundamental compreender as causas do chocolate, um dos itens mais queridos desse período, em formato de ovo, estar se tornando consideravelmente mais caro.

A escalada dos preços do cacau, que começou na segunda metade de 2022 e dobrou até janeiro de 2024, alcançando um pico histórico, lança uma sombra sobre a indústria do chocolate e os consumidores aficionados.

Grandes empresas como Hershey e Mondelez International, dona da Cadbury, repassaram esses custos para os compradores no ano passado, refletindo diretamente no preço final dos produtos.

Os padrões climáticos adversos são parcialmente responsáveis por essa situação. A produção de cacau, concentrada nas mãos de pequenos agricultores da África Ocidental, especialmente em Gana e Costa do Marfim, foi devastada por temperaturas incomuns e altas precipitações, seguidas por uma severa seca trazida pelo El Niño.

Essas condições climáticas extremas, além de doenças como a vassoura-de-bruxa e a podridão preta, têm prejudicado gravemente as safras.

Simultaneamente, o azeite, uma iguaria que costuma acompanhar o bacalhau nas mesas de Páscoa, experimentou um aumento dramático nos preços, alcançando níveis recordes.

A demanda crescente, impulsionada pela popularização da dieta mediterrânea e seus reconhecidos benefícios à saúde, encontrou um obstáculo nas adversidades climáticas que assolam as principais regiões produtoras.

Espanha, Itália e Grécia, responsáveis pela maior parte da produção mundial, enfrentam ondas de calor prolongadas e secas, que comprometeram significativamente a safra. A situação foi agravada pelo aumento no custo dos fertilizantes e medidas restritivas à exportação por parte de países como a Turquia, exacerbando a escassez de oferta e pressionando ainda mais os preços.

Os reflexos desses aumentos são palpáveis. É possível observar tanto um aumento direto nos preços dos produtos finais bem como uma redução do tamanho das porções —não é só uma impressão, as barras e caixas de chocolate tem mesmo ficado menores.

A "reduflação" acaba sendo uma estratégia adotada por várias empresas para não perderem os consumidores pela alta dos valores. Embora, no Brasil, as marcas sejam exigidas a informar a mudança na própria embalagem, um comprador apressado ou desatento pode não perceber que está pagando mais caro.

Outra estratégia que as empresas têm adotado, e que requer vigilância dos consumidores, envolve a redução da qualidade dos produtos.

No que se refere ao chocolate, tal prática se manifesta pelo emprego de menor quantidade de cacau, complementada pela adição de gordura vegetal e saborizantes artificiais.

Similarmente, no caso do azeite, observa-se a diluição com óleo de soja e o uso de aromatizantes artificiais. Essas alterações, embora não violem regulamentações específicas, destacam a importância de uma leitura atenta dos ingredientes listados nas embalagens antes da compra.

Diante deste contexto, esta celebração de Páscoa encarecida desafia nossas capacidades de adaptação e inovação. Independentemente da capacidade de cada um de absorver os reajustes de preço ou de buscar alternativas viáveis, o cerne da celebração se mantém inalterado: o valor de compartilhar momentos significativos com familiares e amigos.

Erramos: o texto foi alterado

A doença da vassoura-de-bruxa é causada por um fungo, não por um vírus como afirmava versão anterior deste texto.

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